sábado, 19 de março de 2011

Cemitério São Miguel e o Incêndio do Gran Circus de Niterói

           
O Cemitério São Miguel teria sido construído as pressas para enterrar as vítimas do Gran circus Norteamericano que incendiou-se em Niterói. 

(Cemitério do Maruí, no Barreto, abrindo novas covas para vítimas do incêndio)
          O cemitério do Maruí, no Barreto, em Niterói, não possuia capacidade suficiente para enterrar todas as vítimas da tragédia. A maioria dos vitimados da tragédia não tinham como serem sepultados em Cemitérios dessa cidade. Então a Prefeitura de São Gonçalo teve de ajudar na construção de um novo cemitério (Cemitério São Miguel) com o qual parte das terras do Palacete do Mimi foram desapropriadas. 
          Uma semana antes do Natal de 1961, o incêndio do Gran Circus Norteamericano deixou mais de 370 mortos e 120 mutilados. Foi a maior tragédia já vivida em Niterói e causou comoção no mundo inteiro, com votos de pesar inclusive do Papa João XXIII.  A cidade ficou traumatizada e só voltou a ver um circo 14 anos depois.
          O fogo durou cerca de dez minutos e consumiu rapidamente a lona recém-adquirida, que pesava seis toneladas e era de nylon (detalhes que faziam parte da propaganda do circo). A cobertura, em chamas, caiu sobre os 2.500 espectadores. A multidão tentou fugir, o que causou pânico e pisoteamento.


          Morreram 372 pessoas na hora e pelo menos 200 feridos foram hospitalizados, a maior parte em estado grave. Muitos destes não sobreviveram. Como não havia no IML de Niterói mais espaço, vários corpos estavam sendo recolhidos às câmaras de estocagem de carne bovina da Maveroy Indústrias Frigoríficas.

(corpos eram levados e velados para o Estádio Caio Martins)

          Motivo do incêndio

          “Enquanto Valter Rosas dos Santos jogava gasolina pelo lado de fora do circo, Adílson Marcelino Alves (réu confesso), assistia, dentro, ao espetáculo, se divertindo com o palhaço. Cinco minutos antes de terminar o show, saiu e, mesmo sabendo que amigos seus estavam dentro do circo, botou fogo em tudo” – contou aos jornalistas o próprio Adílson, o Dequinha, o principal responsável pelo incêndio, na presença dos policiais. 
(Tribuna da Imprensa, 22 de dezembro de 1961)

           O motivo foi vingança. Adilson trabalhou na montagem da lona, mas foi demitido porque o dono do circo, Danilo Stevanovich, descobriu que ele tinha antecedentes criminais. Um dia antes da tragédia, Adilson acusou o funcionário Maciel Felizardo de ter provocado a sua demissão, que o agrediu. Adilson reagiu jurando vingança.


Após uma semana com mais de duas centenas de corpos ainda guardados nos Frigorícos de Niterói, a prefeitura de São Gonçalo recebeu os corpos das vítimas colocando-os em covas rasas num terreno que seria mais tarde o Cemitério de São Miguel.

          O Profeta Gentileza
          
          Seis dias após a tragédia, José Datrino acordou ouvindo “vozes astrais”, segundo suas próprias palavras:
"No dia 23 de dezembro de 1961 eu recebi o chamado de três vozes astrais para deixar o mundo material, e viver o mundo espiritual na terra. Eu deveria vir como São José para representar Jesus de Nazaré na terra, perdoar toda a humanidade e mostrar o caminho da verdade que é o nosso Pai. (…) Fui ao Circo ser o consolador de todos que chegavam desesperados porque perderam papai, mamãe… "
          O empresário pegou um de seus caminhões, foi para o local do incêndio e plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo. Aquela foi sua morada por quatro anos. Daquele dia em diante, passou a se chamar José Agradecido ou simplesmente Profeta Gentileza.


Fotos: Labohi - Laboratório de História Oral e Imagens da UFF (/www.historia.uff.br/labohi)  


7 comentários:

  1. Que catastrofe ! Como pode um ser depois de fazer tanto mal ddormir.

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  2. Que lindo,...
    e quantas boas histórias guardam tão poucas linhas. E quanto mais conta mais tenho curiosidades.

    Qual teria sido o antecedente criminal? como foi planejado? que vida tinha o profeta gentiliza? em que ramo trabalhava? o que foi feito de herança? Quando e onde morreu? e os réus que fim levaram?

    Por que o dono do circo achou justo demitir o réu? muito bacana ler um texto que me deixa um milhão de questionamento. Sempre além que bom...além do folclore...

    Os alunos da FFP _UERJ precisam ser mais motivados para pesquisar e fazer belos livros monográficos de tudo isso.

    Parabéns ao trabalho!!!!l
    Abraços Fraternos!!!

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  3. Muito interessante.Uma história leva a outra,as outras e assim por diante.Incrível!

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  4. Triste a façanha.Só Deus pra entender o ser humano.

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  5. MINHA MÃE PERDEU UM VIZINHO NESTA TRAGÉDIA.

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  6. Cresci, vendo pessoas mutiladas ,em Niterói , nasci em 1957, e por conta de meu pai, ter bebido e ido pro Maracanã , deixou de cumprir a promessa de me levar ao circo, foi a mão de um anjo que me poupou da tragédia

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